contraí hemorróidas. corroem-me as nádegas, proporcionando um êxtase de dor completamente novo que, justamente por isso, me atraí e atormenta. através desta desordem na reta final do meu tubo digestivo foi que conheci Ana Madalena, enfermeira que mediante transação bancária auxiliava velhos e outras espécies de inválidos no alívio contínuo da impotência para a qual o caminho encurta a cor berrante dos vivos de abrir os beiços. Empeava dúzias de panos de pratos embevecidos de bálsamo e arnica que eu deixava em mim parasitarem quando de bruços. Tinha afável tom de conversação. Nunca deixou escapar um fôlego surpreso ou um muxoxo de reproche ante à situação de repolho na qual se encontrava meu ânus. Conhecemo-nos no plantão do Hospital Miguel Couto, onde fui fazer coro com mendigos epiléticos hipocondríacos cardíacos diabéticos leprosos aidéticos cancerígenos pedindo pausa no fluxo e refluxo da diarréia típica dos que se movem, tipos pestilentos em cuja companhia hospitaleira me senti um inóspito espetáculo de sordidez comedida e calculada. Deixo a idéia de enfiar minha mão no pote de agulhas usadas quando pela porta adentra na quarentena dos trapos de carne Ana Madalena, em trajes brancos, justos, provocativos. Toma meu braço e mede minha pressão, os cabelos roçando meus pelos eriçavam minha gula Fome de ser outro Criando em mim uma ereção completamente insuspeitada àquele local e circunstância. O sol reverberando em cada vértebra de metal que construía o leito manco da existência enferma e efêmera para a qual não se há cura. Não há saídas, segreda minha boca fechada ou aberta. Homem-pedra. Tendo sido devidamente medicado, nádegas costuradas, volto ao Hospital na primeira infecção que desculpa minha visita e fantasia - que a mim, o uniforme branco formal – dos olhos roupas e dentes – juntos ao formol que exalava daquelas paredes também brancas – sempre indicaram uma paz a ser dilacerada com caninos, comida na gestação do puro Eu arranho minhas feridas Até que na primeira infecção Miguel Couto A dor comendo minha bunda E também os demais se revezando Ana Madalena, que nunca escondeu ser ativa nem tampouco sua preferência por eunucos, infiltra-se de cinta negra de látex e se enfia nos fogosos rabos que se lhes oferecem. Durante as madrugadas, ignoram os avisos de silêncio dos quais se beneficiariam. O bando de sodomitas fazendo hora-extra na labuta da vida começara a pensar que bondage era uma nova espécie de meditação preparando para o além, como a velha última unção dos padres e os exercícios de pania dos budistas A imobilidade da vida A transitoriedade do gozo Cartografias equivocadas, dizia Ana Madalena - a Papisa Levava cordas, couros, plástico E se sucedeu que tais plásticos fizeram a feição de muitas dessas carcaças de abutres que mal coletaram impostos pra Nação – gente miúda: pedreiros, engraxates, gente de roça, entregadores de leite ou jornal, aposentados com o mínimo, ou nenhuma! coleta e ali, mamando da saúde pública elogiada até pelo Mister Presidente da Nação Americana. Todos correndo como se a luz os buscasse entre dentes Como se agora entendessem o que nunca entenderam Imobilidade Gozo Como se nunca Para arreganharem seus regos quando chegava Ana
Um desses joão-ninguém era um cyborg que utilizava uma máquina para que o ar se queimasse em sal e seu sangue sujo se compusesse óleo, não podendo receber outros componentes em seu corpo; teve uma parada respiratória; e ele até conseguiria reunir um último fôlego cibernético e esboçar um grito patético não fossem as nádegas da sádica enfermeira lhe obstruindo a boca o nariz as bochechas e a face toda, Explodindo cacos de carne transgênica nas paredes da emergência de barrar o fora já interdito desde Voava Óleo e sal Essa história andou O boato correu no ouvido dos chefões do Miguel Couto - Ana foi demitida e agora moramos todos juntos [sob veementes protestos e petições legais para que esta se mudasse pro armário no sótão, em companhia de Tua sombra imunda].
Começo a entender a idéia de Ana sobre a infertilidade dos idosos ante a produção dos bens de consumo consumados por nós desde a farmácia até o aborto Até que suma E que espremiam o sumo do SUS e esse era o problema-mór da Era Pra Apagar Todo Mundo Chegou nos sessenta, bye bye baby Assim feito tiro repetindo que tinha que começar briga armada e reunia seus amigos Todos devidamente bissexuais e neoliberais Armados de Foucault e Foucou Discutiam horas seus planos de guerrilha Compramos cordas marítimas Cerramos janelas e tapetes vedando portas pras nossas reuniões secretas por conta de um velho casal que particularmente detestava vivia um romance século XIX a sete pernas da nossa sala, e ainda que surdos e presos na barreira do tempo do feudalismo chinês, a precaução nunca é pouca, principalmente após o incidente com Arnaldo, do qual eu e sua mãe éramos os grandes suspeitos. E é claro que as idéias lhes eram perfeitamente descartáveis quanto Ana. Eu não sabia. Recomeço meu fanatismo apaixonado com o qual me entrego a ideologias e sarcófagos. Faço eu meus planos tocando os de Deus. E também aquelas gengivas podres raspadas com gilete num vislumbre onírico que revelavam quando de noite ao dormir punham as dentaduras nuns asquerosos copos d'água limosa que bebiam pela manhã Enquanto que de madrugada Pousavam e repousavam moscas & pernilongos: Certa vez chegaram a vir vigilantes do controle da dengue e queriam confiscar a água cheia de ovas e larvas, com copo dentes espalhafatosos e o que mais ali houvesse – Ana e eu gargalhávamos revezando entre o vão da porta e o buraco da fechadura [naquele tempo, Ana ainda cultivava nossos planos de assassinato, antes de conhecer Zebedeu, antes de querer adotar cães e se munir de um vocabulário anti-imperialista incognoscível nestes tempos tão moderados Junto com todos seus amigos traidores da causa natural das coisas [Que era entender e servir a natureza e sua fome devorando aqueles velhos tão cruelmente, com tanta luxúria, que queríamos um pedaço, nós, seus servos esfomeados, depois receber a graça com uma morte breve e autofágica Depois parir o fruto do vosso ventre Natureza Preta Homem Presa – Até que então tudo nela se pôs vermelho, Sim, a cor do pecado inicial Eva: a sempre puta de filhos podres E Maria: a molestada pelo espanto do divino, puta de filhos mestiços Copulávamos lesbailando ânus de ambos Ana falando da causa trabalhista e da revolução armada que era pra já – Era apagar todo mundo, e quem tivesse mais de sessenta conto na carteira bye bye baby Assim Repetindo como tiro no céu da boca, vazando a veia que continha a vontade de estraçalhar Ana, sem parar de pensar que Depois que o povo matasse uma parte do povo A outra parte ia continuar a se matar à rodo Em nome de todo povo Até que só sobrasse uma família E então só restasse um homem a se perguntar de novo: Quem nasceu primeiro?] - gargalhávamos, éramos felizes, comíamos torta de legumes com galinha. O dinheiro simplesmente aparecia. Ana ligava, alguém batia na porta. Não importava a que horas do dia. Muita gente lhe devia favores, me pareceu. E eu contava com ela e esse amor para que, mesmo depois que ela desistiu de tudo pra viver comendo feijão e farinha de mandioca tomando água Peluda como uma vaca, ainda assim me salvasse da cela quando eu terminasse o que já havia sido começado por Deus no casal que cheirava alfafa e afasia enfiados numa jaula que fedia peido. Fico pensando se o velho vai se cagar quando tiver enforcando A glote vai fechando devagarinho Com precisão e mordaça ele cai no carpet impecável A outra coisa pecadora vê seu marido roxo empretecendo enrugado como um coágulo de intestinos e grita como se grasnasse uma pata velha ainda se gabando das penas porcas cheias de titica Não posso correr riscos Não depois de Arnaldo Eu e sua mãe Suspeitos Se o velho ao menos se cagasse Todos pensariam que fora o velho louco Depressivo Tipo destrutivo Suicida Invadindo apartamentos Cagando por aí E sua mulher não aguentou a dor e a vergonha Se mandando pras cucunhas logo depois. Comprimidos pra insônia com álcool, hematomas de ter dado game-over em frente à penteadeira estilo colonial. Eu e Ana teríamos ido ao cinema. Bom, ela teria ido a meu convite. Providenciaria um par de ingressos algumas horas antes.
Ana nunca me desmentiu na frente da polícia. Zebedeu lhe deu abrigo e ombro amigo e Arnaldo me foi José, encontrando-me solitário e cornudo nos banheiros os mais variados. Vermelha, deixou a casa na penumbra habitual quando se foi. Estou melhor, Ana, caso esteja lendo essa merda de livro. Vai muito melhor essa merda de vida abençoada hare hare. Nadando num rio de cólera cheio de piranhas metálicas que não iriam morrer jamais Sequer deixar de sorrir me arrancando nacos de carne Derramando meu sangue Coalhando tétano na superfície de sua ferrugem Atraindo seu bando A minha pele sedenta cedendo ao gozo dessa vida Nas mordidas de piranhas carnívoras Me banhando do nocivo e solitário coito com meu abismo Sim, estou melhor sem Madalena Sem a puta da Babilônia louvando o bronze que me corrói as nádegas Como quando contraí hemorróidas E a puta de doze chifres lambeu minhas feridas Fui marcado em brasa Grávido do Messias Alienígena quiçá Eldorin Virgem Corrompido em Babilônia Madalena se foi Vai muito melhor essa maldita vida
o desvio
1 de junho de 2010
705
O calor carioca ardendo o encouraçado da existência infernal daqueles corpos quentes borbulhando de tesão e fúria, a periferia fluminense inflamada de álcool E lástimas Sim, rompem-se em pipa e nuvens entrecortando o céu junto aos fios de cobre Cicatrizes e oxigênio alimentando os homens que nutrem o sono das pedras Cobrindo o morro de fumaça e torpor e óleo Enlamaçando a pobreza típica do dia-dia dos trópicos: Porcos pururuca piscina de plástico na laje das casas A praia queimando a retina dói no reflexo das casas Pequenas faixas de areia Micróbios Bactérias Vermes Bichos-geográficos E os pés que pisam bolhas pelo calçadão de Copacabana Descalços Homem reencontrando sua espécie animal e com ela brigando por pão dormido Iogurte vencido Olho um outro derretido no espelho Suor Bico de corvos Suor em bicas A carcaça de um animal Seu estômago seu ânus sua bexiga Amarrada ofídica seus orifícios escorrem vermes por sua ânsia e solidão absoluta No que me dizes de tuas idéias de abrigar a lâmina seu inimigo persecutório Contesto O dente raspando um no outro Até urdir do osso o rosto gasto na sola do tempo escasso na cova das veias o pescoço escava suas gengivas sangram desata nós em beijos chovendo a garganta despista meu destino perdido em jogos e cartas descartadas antes das vistas A visita do Sol nessa tarde antes desatasse os nós Onze e onze Dois 4: O mago O imperador O tarólogo da Rosa Cruz nas praças nas saídas do metrô Desisto dos guarda-chuvas Desço na estação da Glória Depois, se sobrasse troco, trocaria por conhaque ou coca pra que em mim se apague tua sombra [mas quem? - diz O enforcado] Por espécie de já sabido, sei Medidas Cálculos & Luta A capoeira & O gingado da areia levantada pelo vento Que te leve ao úmido das minhas pupilas Leve e incômodo como um zumbido Teu outro cuspido Mortovivo Teu zumbi Mastigo tuas abelhas Teus lábios me ferram me fodem me renasço nu em Pelo líquido extraído das raízes Pelo pandeiro & afoxé Por todo trabalho de amarração Pelo trambique nos folhetos à fechação do corpo Dorme-Jão & Pela arruda Pelas quedas d'água abertas e pelo batuque natural da terra Pela oferenda da tapioca & refrigerante de laranja Homens-sanduíches destribuindo panfletos de ciganas Pela escambeira à beira-mar Pelo axé & nudez erotizada Pelas ancas largas da mulata exportada Pela puta assassina de gringo Palmares ainda gerando feras Este é o universo do desperdício Todas excretas tolas em sentido lato vos digo de vossos Cães estes que vos superArdes em humanidade férrea se fundindo Trilhos carros estruturas metálicas E a polícia vindo correndo me prender porque sou um louco Maníaco fazendo escândalo por aí De madrugada tudo geme A noite puta em que vos sepultai também geme Os uivos do vento Inclusive Ontem mudou-se no 705 um sujeito suspeitoso chamado Arnaldo Nascimento, prelúdio do primogênito que traria a paz espacial e acabaria com a ameça constante de invasão alienígina que secretamente se lhe impunham à Nação Democrata Terra S.A. em troca de prostituição espelhos cachaça - Contou suas histórias de hospício, o qual ele, com carinho, nomeava “Clínica”. Um viciado infecto O que chamam os mais doutos "curado". Nos três primeiros dias, eu, quando sentia o cheiro da limpeza, gozava trancado no meu quarto branco imaculado. Saía - pontual e invariavelmente – às três da tarde e não voltava senão muito após o jantar, em estado deplorável de sobriedade, exaustão e mágoa. Cultivava tomates e pepinos para suas refeições saudáveis. Estocava papel higiênico, mandou colar papel de parede nas próprias, não fumava e soltava ruidosos “bom dia”, fatalmente respondidos com um ruído involuntário da garganta e sempre seguidos por um “como vai?” que me comovia tal o tom frívolo da questão. Pepinos, tomates. Às sextas, costumava pedir pizzas e coca-colas. Guardava a chave embaixo do tapete quando ia ao trabalho, com medo do assalto. Levava o guarda-chuva nos dias de sol, em todo caso, nunca se sabe. Tudo um absurdo tão grande que eu, movido pelo espírito de Deus **DE DEUS** em mim manifestado decidi fazer meu primeiro e último ato de caridade narrada nesse blog altamente vexatório:
A CARIDADE:
Levantou-se pontualmente às dez,
esbarrei com seu bom dia na escada, e, como voltara completamente embriagado,
apertei-lhe com gosto os culhões e disse bem, pode até ser.
Arnaldo me olha assustado:
Estou indo comprar pão, talvez fique pela rua até o trabalho.
Digo, caso alguém me procure. Não que alguém virá me procurar, só pro caso de justificou-se. Sorrio, meio bêbado, meio safado, que não saberia dizer a resposta adequada devido ao nível violento de álcool em minhas veias. Aproveito sua fuga e entro em seu apartamento previsível. Ele têm panos de pratos bordados. E coleciona botões. Bixa – agulhas de tricô repousavam no sofá [A EVIDÊNCIA] Entro no banheiro: toalhas brancas, cuecas e meias ibidem. Libidinosamente virginal. Nunca deve ter visto uma vagina. Ou fodido com volúpia. Procuro desesperadamente algum sinal de merda em suas cuecas – é em vão. Decido ir até o fim, manifestada a compaixão e bondade costumeiramente póstuma ou oculta em dogmas do Salvador Galático em mim como instrumento desta vontade: Eu mesmo defeco em sua privada e lambuzo de cu e humanidade suas roupas de baixo.
A CARIDADE:
Levantou-se pontualmente às dez,
esbarrei com seu bom dia na escada, e, como voltara completamente embriagado,
apertei-lhe com gosto os culhões e disse bem, pode até ser.
Arnaldo me olha assustado:
Estou indo comprar pão, talvez fique pela rua até o trabalho.
Digo, caso alguém me procure. Não que alguém virá me procurar, só pro caso de justificou-se. Sorrio, meio bêbado, meio safado, que não saberia dizer a resposta adequada devido ao nível violento de álcool em minhas veias. Aproveito sua fuga e entro em seu apartamento previsível. Ele têm panos de pratos bordados. E coleciona botões. Bixa – agulhas de tricô repousavam no sofá [A EVIDÊNCIA] Entro no banheiro: toalhas brancas, cuecas e meias ibidem. Libidinosamente virginal. Nunca deve ter visto uma vagina. Ou fodido com volúpia. Procuro desesperadamente algum sinal de merda em suas cuecas – é em vão. Decido ir até o fim, manifestada a compaixão e bondade costumeiramente póstuma ou oculta em dogmas do Salvador Galático em mim como instrumento desta vontade: Eu mesmo defeco em sua privada e lambuzo de cu e humanidade suas roupas de baixo.
29 de maio de 2010
1
Segue andando Pelos mosaicos da Avenida Vieira Souto Meu corpo Já não me importa que os extremos me movam Nem o calor me alcança Estou órfão de afagos E ando sem terra nesta sarjeta Debalde o sentido oculto em que te procuras Devasso a vastidão da minha gula Sal que sorvo Morro Galhos Verde Corvo Fisgando o mais que longe Além da dobra do horizonte pegando fogo Revirando cheiro e lixo Do sal que sorvo.
Morro
-
[Tensão/Contração]
Morro
-
[Tensão/Contração]
Morro
-
Morro
Morro
Morro
[...] - Morro. Até que do alto brotem moleques perguntando de bonés quanto tu vai levá aê sangue-bom Encharcando o algodão que cobria meu corpo Repito um exercício físico como uma reza Subo Desço Morro Segue andando pelos mosaicos da Avenida Vieira Souto meu corpo A visão estreita se amplia e se faz mar Acendo um cigarro Quase o faço pelo contrário Estou distraído e só o vislumbre frouxo da minha morte me atrai Entro num boteco, antes piso na bituca Lei Anti-Fumo “Mais Saúde” Masculino Pia Carteira Cartão Canudo Tudo branco Sal que sorvo
Enfio a mão nos bolsos, as mãos sedentas por moedas Tilintando os copos Copacabana em festa Toda pérolas, toda Dentes abrindo e fechando Um homem Que pede licença e começa a lamber minhas sandálias e meus dedões Meu sonho diz É espalhar um papelote todo num pé 43, e depois abrigá-lo na minha próstata Nesse momento acho um absurdo Ter que dividir o pó O pão nosso de cada dia dai-nos O diabo amassando meus músculos Se contorcem minhas veias O diabo dando nós nas coisas As linhas deslizando da carteira à narina Até que ele é bonito E tem esses olhos tristes e delicados O diabo dando nós em nós As paredes apertadas do sanitário mútuo Como num confessionário Esperamos a penitência na carne Libando o açoite Do vidro esfarelado Entregues à escatofagia bacteriófaga das bocas imundas Dentes podres Abrindo e fechando Um homem Abrigá-lo na minha próstata Homem: Peço licença e entro na cabine. Na altura dos joelhos, minha calça se tinge de mijo, abro a boca e degusto o couro das sandálias de um estranho Estrategicamente enfio seus dois dedões corpulentos na minha garganta, olho pra cima, miando: Meu sonho é espalhar um papelote todo num pé 43, e depois abrigá-lo na minha próstata. é bonito. Ou me parece. Um homem Me empurra a cabeça Interrompe o contra fluxo que minha mucosa exercia. Peço licença e saio da cabine.
Noto que o tarado dos pés continua lá dentro. Lambendo restos de plástico com coca, ou procurando pentelhos pra guardar na carteira ou então sei lá. O bar está lotado: jovens por todos os lados
Verde-água, amarelo-canário, azul-turquesa. O móbile da pátria pederasta. Leve é o peso das estrelas. Pluma. E toda música, se não é samba, é parente. É abre-alas da vida, é glorioso eldorado global É globeleza Abre-alas da vida Brindando Viva! A cachaça pestilenta que não provam se privados de seu açúcar e selo de exportação Viva a fome que só é vista nos noticiários e evitada nas esquinas A secura do homem e a beleza da vida Confete Serpentina Tudo é carnaval Mesmo onde não é Não há mal nenhum em assim o ser De assim estar esta noite Copacabana em festa se alvoroça Se aglomera se devora e se mija toda Pra depois dormir suada no acolchoado até fresco dos ares condicionados A condição ariana da festa A herança bêbeda da Grécia Que só nos resta a cachaça Que alivia o calor o frio e o tesão Que nos amansa e anima como nenhuma oração ou filosofia Só me assombra o só A antítese dessa festa Todos dormem sós Em seus colchões de carne e vértebra; A música que não é de amor será sempre triste De agora em diante Engolirei notas e crédito em doses rápidas de fiado Meu ritmo se esfacelando junto com os demais, tudo tendendo à histeria coletiva das hienas equilibradas em duas patas e poliletradas: Gargalham e queimam a rosca junto aos demais Eu me enfarinhando também tamborilava os pés até que em mim fiaram com pontudas agulhas ELAS um incontrolável desejo súbito de uivar No que avanço A fera bípede no balcão – não se importa com comerciais domingos feriados Atendendo à domicílio E sendo do mais absoluto sigilo Em sonhos Inclusive Em sonhos
Uivo:
[No que se espantam os casais e as moscas, dois grandalhões barbados e mafiosos engravatados me socam os intestinos e forçam óvnis escondidos pelo serviço secreto norte-americano a me abduzirem de novo à orla de Copacabana e desde então sofro de amnésia e de uma hérnia que mais parece uma gravidez de perna e me pergunto como é que copularam comigo]
Morro
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[Tensão/Contração]
Morro
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[Tensão/Contração]
Morro
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Morro
Morro
Morro
[...] - Morro. Até que do alto brotem moleques perguntando de bonés quanto tu vai levá aê sangue-bom Encharcando o algodão que cobria meu corpo Repito um exercício físico como uma reza Subo Desço Morro Segue andando pelos mosaicos da Avenida Vieira Souto meu corpo A visão estreita se amplia e se faz mar Acendo um cigarro Quase o faço pelo contrário Estou distraído e só o vislumbre frouxo da minha morte me atrai Entro num boteco, antes piso na bituca Lei Anti-Fumo “Mais Saúde” Masculino Pia Carteira Cartão Canudo Tudo branco Sal que sorvo
Enfio a mão nos bolsos, as mãos sedentas por moedas Tilintando os copos Copacabana em festa Toda pérolas, toda Dentes abrindo e fechando Um homem Que pede licença e começa a lamber minhas sandálias e meus dedões Meu sonho diz É espalhar um papelote todo num pé 43, e depois abrigá-lo na minha próstata Nesse momento acho um absurdo Ter que dividir o pó O pão nosso de cada dia dai-nos O diabo amassando meus músculos Se contorcem minhas veias O diabo dando nós nas coisas As linhas deslizando da carteira à narina Até que ele é bonito E tem esses olhos tristes e delicados O diabo dando nós em nós As paredes apertadas do sanitário mútuo Como num confessionário Esperamos a penitência na carne Libando o açoite Do vidro esfarelado Entregues à escatofagia bacteriófaga das bocas imundas Dentes podres Abrindo e fechando Um homem Abrigá-lo na minha próstata Homem: Peço licença e entro na cabine. Na altura dos joelhos, minha calça se tinge de mijo, abro a boca e degusto o couro das sandálias de um estranho Estrategicamente enfio seus dois dedões corpulentos na minha garganta, olho pra cima, miando: Meu sonho é espalhar um papelote todo num pé 43, e depois abrigá-lo na minha próstata. é bonito. Ou me parece. Um homem Me empurra a cabeça Interrompe o contra fluxo que minha mucosa exercia. Peço licença e saio da cabine.
Noto que o tarado dos pés continua lá dentro. Lambendo restos de plástico com coca, ou procurando pentelhos pra guardar na carteira ou então sei lá. O bar está lotado: jovens por todos os lados
Verde-água, amarelo-canário, azul-turquesa. O móbile da pátria pederasta. Leve é o peso das estrelas. Pluma. E toda música, se não é samba, é parente. É abre-alas da vida, é glorioso eldorado global É globeleza Abre-alas da vida Brindando Viva! A cachaça pestilenta que não provam se privados de seu açúcar e selo de exportação Viva a fome que só é vista nos noticiários e evitada nas esquinas A secura do homem e a beleza da vida Confete Serpentina Tudo é carnaval Mesmo onde não é Não há mal nenhum em assim o ser De assim estar esta noite Copacabana em festa se alvoroça Se aglomera se devora e se mija toda Pra depois dormir suada no acolchoado até fresco dos ares condicionados A condição ariana da festa A herança bêbeda da Grécia Que só nos resta a cachaça Que alivia o calor o frio e o tesão Que nos amansa e anima como nenhuma oração ou filosofia Só me assombra o só A antítese dessa festa Todos dormem sós Em seus colchões de carne e vértebra; A música que não é de amor será sempre triste De agora em diante Engolirei notas e crédito em doses rápidas de fiado Meu ritmo se esfacelando junto com os demais, tudo tendendo à histeria coletiva das hienas equilibradas em duas patas e poliletradas: Gargalham e queimam a rosca junto aos demais Eu me enfarinhando também tamborilava os pés até que em mim fiaram com pontudas agulhas ELAS um incontrolável desejo súbito de uivar No que avanço A fera bípede no balcão – não se importa com comerciais domingos feriados Atendendo à domicílio E sendo do mais absoluto sigilo Em sonhos Inclusive Em sonhos
Uivo:
[No que se espantam os casais e as moscas, dois grandalhões barbados e mafiosos engravatados me socam os intestinos e forçam óvnis escondidos pelo serviço secreto norte-americano a me abduzirem de novo à orla de Copacabana e desde então sofro de amnésia e de uma hérnia que mais parece uma gravidez de perna e me pergunto como é que copularam comigo]
11 de fevereiro de 2010
Caninos & cicuta
V
Envolto à tormenta
o trânsito feito
chumbo
estanca o fluxo
das avenidas Seixos
abrem o peito
de uma ave vazia
Um animal morto
alimenta um coro
de formigas -
suas patas reluzem
impressas no vermelho
da ave abatida no céu desabando
sobre um bando de ratazanas
todo fôlego suspenso
da cidade Lâmpadas trêmulas
De acumular folhas
vehas
gotas
ligações
fiadas
no cobre
corre seiva escassa:
o sangue contido pelos algodões:
o peso do mesmo caminho:
aquilo que se:
corpo:
vinte e cinco cascas
pele cuja extensão é carne e cabelos e flores brancas
em um túmulo:
montículo de grama,
galhos, chuva,
luz, fogo:
o lodo das calçadas brinca com pegadas inumanas:
pingando no mapa
a saliva de Proteu:
um borrão
entre os olhos e a estrada: rastros:
de sobressaltar gatos que fogem do abrigo dos toldos
arriscam saltos pelas poças até o alto das carnaúbas e se arrepiam todos
os vidros se partem:
a torneira pinga sete vezes:
um bando de gralhas
histéricas gargalham
suas asas.
Aproximo-me do caule
com a extensão dos meus polegares feita lâmina prata
A enchurrada
dissipa as sombras humanas Então
miro meus passos à sua casa.
Folhas flutuam imóveis
de súbito
toda respiração congela.
o olho de olho
no gato
a chuva ainda ventando
As árvores se curvam para recebê-la
para resistir ao Vento
balançam suas cabeleiras
uivando feito doidas que eram
E somos
passos
passos
até que raiz e
entre os galhos
gato
ajoelho
manchando de máculas
as pernas
esbarrando em pedras
brotando nas coxas
dois coágulos
a raiz limitada pelo cárcere do cimento
Admiro a beleza do meu sangue preto
Rezo uma reza em reza e língua que jamais aprendi
Braços contrapostos e abertos
Exponho os seios
esperando pela investida de um raio que me dispa de peles
Ou o ataque do gato
que em mim dance suas unhas Rezo quieta
lambendo a ponta prolongada dos meus dedos
degustando a curva
do fio afiado que desfia a teia da vida
faz jorrar seu tecido pelas veias libando
a água me chega à virilha
então cravo fundo as unhas na madeira
Viemos do mesmo lugar
sinto correrem juntas nossas seivas
a carne por detrás das unhas vai se abrindo revelando vermelhidão que me excita
e incita a provar seu gosto
morder sua fruta
suco do que se perpassa mulher-árvore perscruta o rabo de um gato
pousado acuado em um galho bambo
ambos sabemos que não há mais nada além
daquela árvore
então abro novo sulco na palma da mão -
libando meu sangue árvore-mulher-felino
nossas retinas reluzem
o peso do nosso corpo
deságua um no outro
chão: sangue chuva
gota de mulher e gato feitos um
a lâmina encontra a cavidade dos seus olhos. Gememos.
[Mas vou ao teu encontro
carrego o presente felino
ofídico
feminino
dos que veem livres dos olhos
O fluxo das águas nos arrasta
quando me deito sobre um pedaço de madeira móvel
teu canto me atrai entre os apelos
gritos de ajuda
como a lua
uma pedra morta Sou água fugídia
desta terra pálida
nela me confundo
para num leito último
encontrar suas raízes bulhosas beber
lava quente
teu gozo no fundo de tudo
tudo que ouço e toco
tudo que me preenche e de mim escapa
babujo sangue alguma saliva algas vermelhas água suja que vem lavar o leito e lápide
dos que vivem dentro de seus cárceres de cimento e carne
de que importa
não lhe saber a forma se te moves através de mim e para mim?
me faço fumaça
em coro àquilo que ecoa nos céus
e em tudo me fundo para me findar do fora
Do que é sombra e dizem luz
Para que se faça noite
Para que exploda em repouso cada estrela
cada movente
Fiapos de plutônio
Entre teus dentes]
Desconheço
visões turvas águas janelas
Como quem chora
minha visão embaçada
só trouxe
o que havia dentro.
Lentamente
o rodopio da madeira da qual me solto:
vou ao encontro das águas frias.
Sinto tua respiração
gelar minha nuca.
Tão perto que poderia tocar teus caninos
Beija meu pescoço
seios
barriga
virilha
Prova o gosto dos meus cabelos
inunda o espaço entre meus dedos
pés
narinas Invade e toma minha vida com teu beijo
E depois
solta.
Como num trago
Envolto à tormenta
o trânsito feito
chumbo
estanca o fluxo
das avenidas Seixos
abrem o peito
de uma ave vazia
Um animal morto
alimenta um coro
de formigas -
suas patas reluzem
impressas no vermelho
da ave abatida no céu desabando
sobre um bando de ratazanas
todo fôlego suspenso
da cidade Lâmpadas trêmulas
De acumular folhas
vehas
gotas
ligações
fiadas
no cobre
corre seiva escassa:
o sangue contido pelos algodões:
o peso do mesmo caminho:
aquilo que se:
corpo:
vinte e cinco cascas
pele cuja extensão é carne e cabelos e flores brancas
em um túmulo:
montículo de grama,
galhos, chuva,
luz, fogo:
o lodo das calçadas brinca com pegadas inumanas:
pingando no mapa
a saliva de Proteu:
um borrão
entre os olhos e a estrada: rastros:
de sobressaltar gatos que fogem do abrigo dos toldos
arriscam saltos pelas poças até o alto das carnaúbas e se arrepiam todos
os vidros se partem:
a torneira pinga sete vezes:
um bando de gralhas
histéricas gargalham
suas asas.
Aproximo-me do caule
com a extensão dos meus polegares feita lâmina prata
A enchurrada
dissipa as sombras humanas Então
miro meus passos à sua casa.
Folhas flutuam imóveis
de súbito
toda respiração congela.
o olho de olho
no gato
a chuva ainda ventando
As árvores se curvam para recebê-la
para resistir ao Vento
balançam suas cabeleiras
uivando feito doidas que eram
E somos
passos
passos
até que raiz e
entre os galhos
gato
ajoelho
manchando de máculas
as pernas
esbarrando em pedras
brotando nas coxas
dois coágulos
a raiz limitada pelo cárcere do cimento
Admiro a beleza do meu sangue preto
Rezo uma reza em reza e língua que jamais aprendi
Braços contrapostos e abertos
Exponho os seios
esperando pela investida de um raio que me dispa de peles
Ou o ataque do gato
que em mim dance suas unhas Rezo quieta
lambendo a ponta prolongada dos meus dedos
degustando a curva
do fio afiado que desfia a teia da vida
faz jorrar seu tecido pelas veias libando
a água me chega à virilha
então cravo fundo as unhas na madeira
Viemos do mesmo lugar
sinto correrem juntas nossas seivas
a carne por detrás das unhas vai se abrindo revelando vermelhidão que me excita
e incita a provar seu gosto
morder sua fruta
suco do que se perpassa mulher-árvore perscruta o rabo de um gato
pousado acuado em um galho bambo
ambos sabemos que não há mais nada além
daquela árvore
então abro novo sulco na palma da mão -
libando meu sangue árvore-mulher-felino
nossas retinas reluzem
o peso do nosso corpo
deságua um no outro
chão: sangue chuva
gota de mulher e gato feitos um
a lâmina encontra a cavidade dos seus olhos. Gememos.
[Mas vou ao teu encontro
carrego o presente felino
ofídico
feminino
dos que veem livres dos olhos
O fluxo das águas nos arrasta
quando me deito sobre um pedaço de madeira móvel
teu canto me atrai entre os apelos
gritos de ajuda
como a lua
uma pedra morta Sou água fugídia
desta terra pálida
nela me confundo
para num leito último
encontrar suas raízes bulhosas beber
lava quente
teu gozo no fundo de tudo
tudo que ouço e toco
tudo que me preenche e de mim escapa
babujo sangue alguma saliva algas vermelhas água suja que vem lavar o leito e lápide
dos que vivem dentro de seus cárceres de cimento e carne
de que importa
não lhe saber a forma se te moves através de mim e para mim?
me faço fumaça
em coro àquilo que ecoa nos céus
e em tudo me fundo para me findar do fora
Do que é sombra e dizem luz
Para que se faça noite
Para que exploda em repouso cada estrela
cada movente
Fiapos de plutônio
Entre teus dentes]
Desconheço
visões turvas águas janelas
Como quem chora
minha visão embaçada
só trouxe
o que havia dentro.
Lentamente
o rodopio da madeira da qual me solto:
vou ao encontro das águas frias.
Sinto tua respiração
gelar minha nuca.
Tão perto que poderia tocar teus caninos
Beija meu pescoço
seios
barriga
virilha
Prova o gosto dos meus cabelos
inunda o espaço entre meus dedos
pés
narinas Invade e toma minha vida com teu beijo
E depois
solta.
Como num trago
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