29 de maio de 2010

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Segue andando Pelos mosaicos da Avenida Vieira Souto Meu corpo Já não me importa que os extremos me movam Nem o calor me alcança Estou órfão de afagos E ando sem terra nesta sarjeta Debalde o sentido oculto em que te procuras Devasso a vastidão da minha gula Sal que sorvo Morro Galhos Verde Corvo Fisgando o mais que longe Além da dobra do horizonte pegando fogo Revirando cheiro e lixo Do sal que sorvo.





Morro
     -
    [Tensão/Contração]
                            Morro
                                   -
                          [Tensão/Contração]
                                                  Morro
                                                         -
                                                          Morro
                                                               Morro
                                                                      Morro
                                                                           [...] - Morro. Até que do alto brotem moleques perguntando de bonés quanto tu vai levá aê sangue-bom Encharcando o algodão que cobria meu corpo Repito um exercício físico como uma reza Subo Desço Morro Segue andando pelos mosaicos da Avenida Vieira Souto meu corpo A visão estreita se amplia e se faz mar Acendo um cigarro Quase o faço pelo contrário Estou distraído e só o vislumbre frouxo da minha morte me atrai Entro num boteco, antes piso na bituca Lei Anti-Fumo “Mais Saúde” Masculino Pia Carteira Cartão Canudo Tudo branco Sal que sorvo

Enfio a mão nos bolsos, as mãos sedentas por moedas Tilintando os copos Copacabana em festa Toda pérolas, toda Dentes abrindo e fechando Um homem Que pede licença e começa a lamber minhas sandálias e meus dedões Meu sonho diz É espalhar um papelote todo num pé 43, e depois abrigá-lo na minha próstata Nesse momento acho um absurdo Ter que dividir o pó O pão nosso de cada dia dai-nos O diabo amassando meus músculos Se contorcem minhas veias O diabo dando nós nas coisas As linhas deslizando da carteira à narina Até que ele é bonito E tem esses olhos tristes e delicados O diabo dando nós em nós As paredes apertadas do sanitário mútuo Como num confessionário Esperamos a penitência na carne Libando o açoite Do vidro esfarelado Entregues à escatofagia bacteriófaga das bocas imundas Dentes podres Abrindo e fechando Um homem Abrigá-lo na minha próstata Homem: Peço licença e entro na cabine. Na altura dos joelhos, minha calça se tinge de mijo, abro a boca e degusto o couro das sandálias de um estranho Estrategicamente enfio seus dois dedões corpulentos na minha garganta, olho pra cima, miando: Meu sonho é espalhar um papelote todo num pé 43, e depois abrigá-lo na minha próstata. é bonito. Ou me parece. Um homem Me empurra a cabeça Interrompe o contra fluxo que minha mucosa exercia. Peço licença e saio da cabine.

Noto que o tarado dos pés continua lá dentro. Lambendo restos de plástico com coca, ou procurando pentelhos pra guardar na carteira ou então sei lá. O bar está lotado: jovens por todos os lados

Verde-água, amarelo-canário, azul-turquesa. O móbile da pátria pederasta. Leve é o peso das estrelas. Pluma. E toda música, se não é samba, é parente. É abre-alas da vida, é glorioso eldorado global É globeleza Abre-alas da vida Brindando Viva! A cachaça pestilenta que não provam se privados de seu açúcar e selo de exportação Viva a fome que só é vista nos noticiários e evitada nas esquinas A secura do homem e a beleza da vida Confete Serpentina Tudo é carnaval Mesmo onde não é Não há mal nenhum em assim o ser De assim estar esta noite Copacabana em festa se alvoroça Se aglomera se devora e se mija toda Pra depois dormir suada no acolchoado até fresco dos ares condicionados A condição ariana da festa A herança bêbeda da Grécia Que só nos resta a cachaça Que alivia o calor o frio e o tesão Que nos amansa e anima como nenhuma oração ou filosofia Só me assombra o só A antítese dessa festa Todos dormem sós Em seus colchões de carne e vértebra; A música que não é de amor será sempre triste De agora em diante Engolirei notas e crédito em doses rápidas de fiado Meu ritmo se esfacelando junto com os demais, tudo tendendo à histeria coletiva das hienas equilibradas em duas patas e poliletradas: Gargalham e queimam a rosca junto aos demais Eu me enfarinhando também tamborilava os pés até que em mim fiaram com pontudas agulhas ELAS um incontrolável desejo súbito de uivar No que avanço A fera bípede no balcão – não se importa com comerciais domingos feriados Atendendo à domicílio E sendo do mais absoluto sigilo Em sonhos Inclusive Em sonhos



Uivo:




[No que se espantam os casais e as moscas, dois grandalhões barbados e mafiosos engravatados me socam os intestinos e forçam óvnis escondidos pelo serviço secreto norte-americano a me abduzirem de novo à orla de Copacabana e desde então sofro de amnésia e de uma hérnia que mais parece uma gravidez de perna e me pergunto como é que copularam comigo]