1 de junho de 2010

705

O calor carioca ardendo o encouraçado da existência infernal daqueles corpos quentes borbulhando de tesão e fúria, a periferia fluminense inflamada de álcool E lástimas Sim, rompem-se em pipa e nuvens entrecortando o céu junto aos fios de cobre Cicatrizes e oxigênio alimentando os homens que nutrem o sono das pedras Cobrindo o morro de fumaça e torpor e óleo Enlamaçando a pobreza típica do dia-dia dos trópicos: Porcos pururuca piscina de plástico na laje das casas A praia queimando a retina dói no reflexo das casas Pequenas faixas de areia Micróbios Bactérias Vermes Bichos-geográficos E os pés que pisam bolhas pelo calçadão de Copacabana Descalços Homem reencontrando sua espécie animal e com ela brigando por pão dormido Iogurte vencido Olho um outro derretido no espelho Suor Bico de corvos Suor em bicas A carcaça de um animal Seu estômago seu ânus sua bexiga Amarrada ofídica seus orifícios escorrem vermes por sua ânsia e solidão absoluta No que me dizes de tuas idéias de abrigar a lâmina seu inimigo persecutório Contesto O dente raspando um no outro Até urdir do osso o rosto gasto na sola do tempo escasso na cova das veias o pescoço escava suas gengivas sangram desata nós em beijos chovendo a garganta despista meu destino perdido em jogos e cartas descartadas antes das vistas A visita do Sol nessa tarde antes desatasse os nós Onze e onze Dois 4: O mago O imperador O tarólogo da Rosa Cruz nas praças nas saídas do metrô Desisto dos guarda-chuvas Desço na estação da Glória Depois, se sobrasse troco, trocaria por conhaque ou coca pra que em mim se apague tua sombra [mas quem? - diz O enforcado] Por espécie de já sabido, sei Medidas Cálculos & Luta A capoeira & O gingado da areia levantada pelo vento Que te leve ao úmido das minhas pupilas Leve e incômodo como um zumbido Teu outro cuspido Mortovivo Teu zumbi Mastigo tuas abelhas Teus lábios me ferram me fodem me renasço nu em Pelo líquido extraído das raízes  Pelo pandeiro & afoxé  Por todo trabalho de amarração Pelo trambique nos folhetos à fechação do corpo Dorme-Jão & Pela arruda Pelas quedas d'água abertas e pelo batuque natural da terra Pela oferenda da tapioca & refrigerante de laranja Homens-sanduíches destribuindo panfletos de ciganas Pela escambeira à beira-mar Pelo axé & nudez erotizada Pelas ancas largas da mulata exportada Pela puta assassina de gringo  Palmares ainda gerando feras Este é o universo do desperdício Todas excretas tolas em sentido lato vos digo de vossos Cães estes que vos superArdes em humanidade férrea se fundindo Trilhos carros estruturas metálicas E a polícia vindo correndo me prender porque sou um louco Maníaco fazendo escândalo por aí De madrugada tudo geme A noite puta em que vos sepultai também geme Os uivos do vento Inclusive Ontem mudou-se no 705 um sujeito suspeitoso chamado Arnaldo Nascimento, prelúdio do primogênito que traria a paz espacial e acabaria com a ameça constante de invasão alienígina que secretamente se lhe impunham à Nação Democrata Terra S.A. em troca de prostituição espelhos cachaça    - Contou suas histórias de hospício, o qual ele, com carinho, nomeava “Clínica”.   Um viciado infecto O que chamam os mais doutos "curado". Nos três primeiros dias, eu, quando sentia o cheiro da limpeza, gozava trancado no meu quarto branco imaculado. Saía - pontual e invariavelmente – às três da tarde e não voltava senão muito após o jantar, em estado deplorável de sobriedade, exaustão e mágoa. Cultivava tomates e pepinos para suas refeições saudáveis. Estocava papel higiênico, mandou colar papel de parede nas próprias, não fumava e soltava ruidosos “bom dia”, fatalmente respondidos com um ruído involuntário da garganta e sempre seguidos por um “como vai?” que me comovia tal o tom frívolo da questão. Pepinos, tomates. Às sextas, costumava pedir pizzas e coca-colas. Guardava a chave embaixo do tapete quando ia ao trabalho, com medo do assalto. Levava o guarda-chuva nos dias de sol, em todo caso, nunca se sabe. Tudo um absurdo tão grande que eu, movido pelo espírito de Deus **DE DEUS** em mim manifestado decidi fazer meu primeiro e último ato de caridade narrada nesse blog altamente vexatório:




A CARIDADE:



Levantou-se pontualmente às dez,
esbarrei com seu bom dia na escada, e, como voltara completamente embriagado,
apertei-lhe com gosto os culhões e disse bem, pode até ser.
Arnaldo me olha assustado:

Estou indo comprar pão, talvez fique pela rua até o trabalho. 
Digo, caso alguém me procure. Não que alguém virá me procurar, só pro caso de justificou-se. Sorrio, meio bêbado, meio safado, que não saberia dizer a resposta adequada devido ao nível violento de álcool em minhas veias. Aproveito sua fuga e entro em seu apartamento previsível. Ele têm panos de pratos bordados. E coleciona botões. Bixa – agulhas de tricô repousavam no sofá [A EVIDÊNCIA] Entro no banheiro: toalhas brancas, cuecas e meias ibidem. Libidinosamente virginal. Nunca deve ter visto uma vagina. Ou fodido com volúpia. Procuro desesperadamente algum sinal de merda em suas cuecas – é em vão. Decido ir até o fim, manifestada a compaixão e bondade costumeiramente póstuma ou oculta em dogmas do Salvador Galático em mim como instrumento desta vontade: Eu mesmo defeco em sua privada e lambuzo de cu e humanidade suas roupas de baixo.