contraí hemorróidas. corroem-me as nádegas, proporcionando um êxtase de dor completamente novo que, justamente por isso, me atraí e atormenta. através desta desordem na reta final do meu tubo digestivo foi que conheci Ana Madalena, enfermeira que mediante transação bancária auxiliava velhos e outras espécies de inválidos no alívio contínuo da impotência para a qual o caminho encurta a cor berrante dos vivos de abrir os beiços. Empeava dúzias de panos de pratos embevecidos de bálsamo e arnica que eu deixava em mim parasitarem quando de bruços. Tinha afável tom de conversação. Nunca deixou escapar um fôlego surpreso ou um muxoxo de reproche ante à situação de repolho na qual se encontrava meu ânus. Conhecemo-nos no plantão do Hospital Miguel Couto, onde fui fazer coro com mendigos epiléticos hipocondríacos cardíacos diabéticos leprosos aidéticos cancerígenos pedindo pausa no fluxo e refluxo da diarréia típica dos que se movem, tipos pestilentos em cuja companhia hospitaleira me senti um inóspito espetáculo de sordidez comedida e calculada. Deixo a idéia de enfiar minha mão no pote de agulhas usadas quando pela porta adentra na quarentena dos trapos de carne Ana Madalena, em trajes brancos, justos, provocativos. Toma meu braço e mede minha pressão, os cabelos roçando meus pelos eriçavam minha gula Fome de ser outro Criando em mim uma ereção completamente insuspeitada àquele local e circunstância. O sol reverberando em cada vértebra de metal que construía o leito manco da existência enferma e efêmera para a qual não se há cura. Não há saídas, segreda minha boca fechada ou aberta. Homem-pedra. Tendo sido devidamente medicado, nádegas costuradas, volto ao Hospital na primeira infecção que desculpa minha visita e fantasia - que a mim, o uniforme branco formal – dos olhos roupas e dentes – juntos ao formol que exalava daquelas paredes também brancas – sempre indicaram uma paz a ser dilacerada com caninos, comida na gestação do puro Eu arranho minhas feridas Até que na primeira infecção Miguel Couto A dor comendo minha bunda E também os demais se revezando Ana Madalena, que nunca escondeu ser ativa nem tampouco sua preferência por eunucos, infiltra-se de cinta negra de látex e se enfia nos fogosos rabos que se lhes oferecem. Durante as madrugadas, ignoram os avisos de silêncio dos quais se beneficiariam. O bando de sodomitas fazendo hora-extra na labuta da vida começara a pensar que bondage era uma nova espécie de meditação preparando para o além, como a velha última unção dos padres e os exercícios de pania dos budistas A imobilidade da vida A transitoriedade do gozo Cartografias equivocadas, dizia Ana Madalena - a Papisa Levava cordas, couros, plástico E se sucedeu que tais plásticos fizeram a feição de muitas dessas carcaças de abutres que mal coletaram impostos pra Nação – gente miúda: pedreiros, engraxates, gente de roça, entregadores de leite ou jornal, aposentados com o mínimo, ou nenhuma! coleta e ali, mamando da saúde pública elogiada até pelo Mister Presidente da Nação Americana. Todos correndo como se a luz os buscasse entre dentes Como se agora entendessem o que nunca entenderam Imobilidade Gozo Como se nunca Para arreganharem seus regos quando chegava Ana
Um desses joão-ninguém era um cyborg que utilizava uma máquina para que o ar se queimasse em sal e seu sangue sujo se compusesse óleo, não podendo receber outros componentes em seu corpo; teve uma parada respiratória; e ele até conseguiria reunir um último fôlego cibernético e esboçar um grito patético não fossem as nádegas da sádica enfermeira lhe obstruindo a boca o nariz as bochechas e a face toda, Explodindo cacos de carne transgênica nas paredes da emergência de barrar o fora já interdito desde Voava Óleo e sal Essa história andou O boato correu no ouvido dos chefões do Miguel Couto - Ana foi demitida e agora moramos todos juntos [sob veementes protestos e petições legais para que esta se mudasse pro armário no sótão, em companhia de Tua sombra imunda].
Começo a entender a idéia de Ana sobre a infertilidade dos idosos ante a produção dos bens de consumo consumados por nós desde a farmácia até o aborto Até que suma E que espremiam o sumo do SUS e esse era o problema-mór da Era Pra Apagar Todo Mundo Chegou nos sessenta, bye bye baby Assim feito tiro repetindo que tinha que começar briga armada e reunia seus amigos Todos devidamente bissexuais e neoliberais Armados de Foucault e Foucou Discutiam horas seus planos de guerrilha Compramos cordas marítimas Cerramos janelas e tapetes vedando portas pras nossas reuniões secretas por conta de um velho casal que particularmente detestava vivia um romance século XIX a sete pernas da nossa sala, e ainda que surdos e presos na barreira do tempo do feudalismo chinês, a precaução nunca é pouca, principalmente após o incidente com Arnaldo, do qual eu e sua mãe éramos os grandes suspeitos. E é claro que as idéias lhes eram perfeitamente descartáveis quanto Ana. Eu não sabia. Recomeço meu fanatismo apaixonado com o qual me entrego a ideologias e sarcófagos. Faço eu meus planos tocando os de Deus. E também aquelas gengivas podres raspadas com gilete num vislumbre onírico que revelavam quando de noite ao dormir punham as dentaduras nuns asquerosos copos d'água limosa que bebiam pela manhã Enquanto que de madrugada Pousavam e repousavam moscas & pernilongos: Certa vez chegaram a vir vigilantes do controle da dengue e queriam confiscar a água cheia de ovas e larvas, com copo dentes espalhafatosos e o que mais ali houvesse – Ana e eu gargalhávamos revezando entre o vão da porta e o buraco da fechadura [naquele tempo, Ana ainda cultivava nossos planos de assassinato, antes de conhecer Zebedeu, antes de querer adotar cães e se munir de um vocabulário anti-imperialista incognoscível nestes tempos tão moderados Junto com todos seus amigos traidores da causa natural das coisas [Que era entender e servir a natureza e sua fome devorando aqueles velhos tão cruelmente, com tanta luxúria, que queríamos um pedaço, nós, seus servos esfomeados, depois receber a graça com uma morte breve e autofágica Depois parir o fruto do vosso ventre Natureza Preta Homem Presa – Até que então tudo nela se pôs vermelho, Sim, a cor do pecado inicial Eva: a sempre puta de filhos podres E Maria: a molestada pelo espanto do divino, puta de filhos mestiços Copulávamos lesbailando ânus de ambos Ana falando da causa trabalhista e da revolução armada que era pra já – Era apagar todo mundo, e quem tivesse mais de sessenta conto na carteira bye bye baby Assim Repetindo como tiro no céu da boca, vazando a veia que continha a vontade de estraçalhar Ana, sem parar de pensar que Depois que o povo matasse uma parte do povo A outra parte ia continuar a se matar à rodo Em nome de todo povo Até que só sobrasse uma família E então só restasse um homem a se perguntar de novo: Quem nasceu primeiro?] - gargalhávamos, éramos felizes, comíamos torta de legumes com galinha. O dinheiro simplesmente aparecia. Ana ligava, alguém batia na porta. Não importava a que horas do dia. Muita gente lhe devia favores, me pareceu. E eu contava com ela e esse amor para que, mesmo depois que ela desistiu de tudo pra viver comendo feijão e farinha de mandioca tomando água Peluda como uma vaca, ainda assim me salvasse da cela quando eu terminasse o que já havia sido começado por Deus no casal que cheirava alfafa e afasia enfiados numa jaula que fedia peido. Fico pensando se o velho vai se cagar quando tiver enforcando A glote vai fechando devagarinho Com precisão e mordaça ele cai no carpet impecável A outra coisa pecadora vê seu marido roxo empretecendo enrugado como um coágulo de intestinos e grita como se grasnasse uma pata velha ainda se gabando das penas porcas cheias de titica Não posso correr riscos Não depois de Arnaldo Eu e sua mãe Suspeitos Se o velho ao menos se cagasse Todos pensariam que fora o velho louco Depressivo Tipo destrutivo Suicida Invadindo apartamentos Cagando por aí E sua mulher não aguentou a dor e a vergonha Se mandando pras cucunhas logo depois. Comprimidos pra insônia com álcool, hematomas de ter dado game-over em frente à penteadeira estilo colonial. Eu e Ana teríamos ido ao cinema. Bom, ela teria ido a meu convite. Providenciaria um par de ingressos algumas horas antes.
Ana nunca me desmentiu na frente da polícia. Zebedeu lhe deu abrigo e ombro amigo e Arnaldo me foi José, encontrando-me solitário e cornudo nos banheiros os mais variados. Vermelha, deixou a casa na penumbra habitual quando se foi. Estou melhor, Ana, caso esteja lendo essa merda de livro. Vai muito melhor essa merda de vida abençoada hare hare. Nadando num rio de cólera cheio de piranhas metálicas que não iriam morrer jamais Sequer deixar de sorrir me arrancando nacos de carne Derramando meu sangue Coalhando tétano na superfície de sua ferrugem Atraindo seu bando A minha pele sedenta cedendo ao gozo dessa vida Nas mordidas de piranhas carnívoras Me banhando do nocivo e solitário coito com meu abismo Sim, estou melhor sem Madalena Sem a puta da Babilônia louvando o bronze que me corrói as nádegas Como quando contraí hemorróidas E a puta de doze chifres lambeu minhas feridas Fui marcado em brasa Grávido do Messias Alienígena quiçá Eldorin Virgem Corrompido em Babilônia Madalena se foi Vai muito melhor essa maldita vida
1 de junho de 2010
705
O calor carioca ardendo o encouraçado da existência infernal daqueles corpos quentes borbulhando de tesão e fúria, a periferia fluminense inflamada de álcool E lástimas Sim, rompem-se em pipa e nuvens entrecortando o céu junto aos fios de cobre Cicatrizes e oxigênio alimentando os homens que nutrem o sono das pedras Cobrindo o morro de fumaça e torpor e óleo Enlamaçando a pobreza típica do dia-dia dos trópicos: Porcos pururuca piscina de plástico na laje das casas A praia queimando a retina dói no reflexo das casas Pequenas faixas de areia Micróbios Bactérias Vermes Bichos-geográficos E os pés que pisam bolhas pelo calçadão de Copacabana Descalços Homem reencontrando sua espécie animal e com ela brigando por pão dormido Iogurte vencido Olho um outro derretido no espelho Suor Bico de corvos Suor em bicas A carcaça de um animal Seu estômago seu ânus sua bexiga Amarrada ofídica seus orifícios escorrem vermes por sua ânsia e solidão absoluta No que me dizes de tuas idéias de abrigar a lâmina seu inimigo persecutório Contesto O dente raspando um no outro Até urdir do osso o rosto gasto na sola do tempo escasso na cova das veias o pescoço escava suas gengivas sangram desata nós em beijos chovendo a garganta despista meu destino perdido em jogos e cartas descartadas antes das vistas A visita do Sol nessa tarde antes desatasse os nós Onze e onze Dois 4: O mago O imperador O tarólogo da Rosa Cruz nas praças nas saídas do metrô Desisto dos guarda-chuvas Desço na estação da Glória Depois, se sobrasse troco, trocaria por conhaque ou coca pra que em mim se apague tua sombra [mas quem? - diz O enforcado] Por espécie de já sabido, sei Medidas Cálculos & Luta A capoeira & O gingado da areia levantada pelo vento Que te leve ao úmido das minhas pupilas Leve e incômodo como um zumbido Teu outro cuspido Mortovivo Teu zumbi Mastigo tuas abelhas Teus lábios me ferram me fodem me renasço nu em Pelo líquido extraído das raízes Pelo pandeiro & afoxé Por todo trabalho de amarração Pelo trambique nos folhetos à fechação do corpo Dorme-Jão & Pela arruda Pelas quedas d'água abertas e pelo batuque natural da terra Pela oferenda da tapioca & refrigerante de laranja Homens-sanduíches destribuindo panfletos de ciganas Pela escambeira à beira-mar Pelo axé & nudez erotizada Pelas ancas largas da mulata exportada Pela puta assassina de gringo Palmares ainda gerando feras Este é o universo do desperdício Todas excretas tolas em sentido lato vos digo de vossos Cães estes que vos superArdes em humanidade férrea se fundindo Trilhos carros estruturas metálicas E a polícia vindo correndo me prender porque sou um louco Maníaco fazendo escândalo por aí De madrugada tudo geme A noite puta em que vos sepultai também geme Os uivos do vento Inclusive Ontem mudou-se no 705 um sujeito suspeitoso chamado Arnaldo Nascimento, prelúdio do primogênito que traria a paz espacial e acabaria com a ameça constante de invasão alienígina que secretamente se lhe impunham à Nação Democrata Terra S.A. em troca de prostituição espelhos cachaça - Contou suas histórias de hospício, o qual ele, com carinho, nomeava “Clínica”. Um viciado infecto O que chamam os mais doutos "curado". Nos três primeiros dias, eu, quando sentia o cheiro da limpeza, gozava trancado no meu quarto branco imaculado. Saía - pontual e invariavelmente – às três da tarde e não voltava senão muito após o jantar, em estado deplorável de sobriedade, exaustão e mágoa. Cultivava tomates e pepinos para suas refeições saudáveis. Estocava papel higiênico, mandou colar papel de parede nas próprias, não fumava e soltava ruidosos “bom dia”, fatalmente respondidos com um ruído involuntário da garganta e sempre seguidos por um “como vai?” que me comovia tal o tom frívolo da questão. Pepinos, tomates. Às sextas, costumava pedir pizzas e coca-colas. Guardava a chave embaixo do tapete quando ia ao trabalho, com medo do assalto. Levava o guarda-chuva nos dias de sol, em todo caso, nunca se sabe. Tudo um absurdo tão grande que eu, movido pelo espírito de Deus **DE DEUS** em mim manifestado decidi fazer meu primeiro e último ato de caridade narrada nesse blog altamente vexatório:
A CARIDADE:
Levantou-se pontualmente às dez,
esbarrei com seu bom dia na escada, e, como voltara completamente embriagado,
apertei-lhe com gosto os culhões e disse bem, pode até ser.
Arnaldo me olha assustado:
Estou indo comprar pão, talvez fique pela rua até o trabalho.
Digo, caso alguém me procure. Não que alguém virá me procurar, só pro caso de justificou-se. Sorrio, meio bêbado, meio safado, que não saberia dizer a resposta adequada devido ao nível violento de álcool em minhas veias. Aproveito sua fuga e entro em seu apartamento previsível. Ele têm panos de pratos bordados. E coleciona botões. Bixa – agulhas de tricô repousavam no sofá [A EVIDÊNCIA] Entro no banheiro: toalhas brancas, cuecas e meias ibidem. Libidinosamente virginal. Nunca deve ter visto uma vagina. Ou fodido com volúpia. Procuro desesperadamente algum sinal de merda em suas cuecas – é em vão. Decido ir até o fim, manifestada a compaixão e bondade costumeiramente póstuma ou oculta em dogmas do Salvador Galático em mim como instrumento desta vontade: Eu mesmo defeco em sua privada e lambuzo de cu e humanidade suas roupas de baixo.
A CARIDADE:
Levantou-se pontualmente às dez,
esbarrei com seu bom dia na escada, e, como voltara completamente embriagado,
apertei-lhe com gosto os culhões e disse bem, pode até ser.
Arnaldo me olha assustado:
Estou indo comprar pão, talvez fique pela rua até o trabalho.
Digo, caso alguém me procure. Não que alguém virá me procurar, só pro caso de justificou-se. Sorrio, meio bêbado, meio safado, que não saberia dizer a resposta adequada devido ao nível violento de álcool em minhas veias. Aproveito sua fuga e entro em seu apartamento previsível. Ele têm panos de pratos bordados. E coleciona botões. Bixa – agulhas de tricô repousavam no sofá [A EVIDÊNCIA] Entro no banheiro: toalhas brancas, cuecas e meias ibidem. Libidinosamente virginal. Nunca deve ter visto uma vagina. Ou fodido com volúpia. Procuro desesperadamente algum sinal de merda em suas cuecas – é em vão. Decido ir até o fim, manifestada a compaixão e bondade costumeiramente póstuma ou oculta em dogmas do Salvador Galático em mim como instrumento desta vontade: Eu mesmo defeco em sua privada e lambuzo de cu e humanidade suas roupas de baixo.
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